A ALIANÇA
“Mas com você eu vou fazer uma aliança.
Portanto, entre na barca e leve com você a sua mulher, os seus filhos e as suas
nora” (Gênesis
6.18)
É a primeira alusão a “aliança”, na Bíblia. Surge com Deus. Ele
faz uma aliança com Noé. O hebraico éberith, “pacto, aliança, concerto”. O primeiro pacto
de Deus, implícito, é com a raça humana (Gn 1.28). Este é o primeiro explícito.
É um ato de Deus, originado nele, dependendo dele, de sua vontade. O
hebraico é berithy, “pacto de
mim” (“meu pacto”). Não é algo negociado, que se discuta. O pacto não é
bilateral, no sentido de Noé ter feito alguma coisa para justificar o pacto ou
de poder ditar os termos, ou mesmo negociar algum ponto do qual não gostasse. É
um ato gratuito de Deus que assume seu escolhido. Mas é unilateral em seu
conteúdo. Ele não diz ‘firmemos um pacto’ ou ‘nosso pacto’, mas ‘o meu pacto.
Por mais estranho que soe, a aliança nasce do juízo. Deus se
dispõe a julgar a raça por causa do seu pecado. Mas havia um homem justo: “Esta
é a história de Noé. Ele foi pai de três filhos: Sem, Cam e Jafé. Noé era um
homem direito e sempre obedecia a Deus. Entre os homens do seu tempo, Noé vivia
em comunhão com Deus” (Gn 6.9). São três elementos principais que se mesclam
nesta história: a depravação da raça, a santidade divina e o andar com Deus
praticado por um homem. As grandes histórias de fé trazem estes ingredientes.
A santidade de Deus não é muito mencionada hoje. Fala-se muito de
sua majestade, porque nos induz à adoração e ao louvor, mas a santidade, que
impacta, que atemoriza, que quebranta, não é mencionada. Precisamos recobrar a
pregação e o ensino sobre a santidade de Deus. Esta santidade não tolera o
pecado, não o aceita de maneira nenhuma. Assim, precisamos recuperar também a
pregação sobre o pecado. A depravação da raça humana é um princípio teológico
inegociável. Iludidos por conceitos sociológicos e psicológicos (que
valem mais que os bíblicos, para muitos), julgamos que o problema da humanidade
é apenas justiça social e mais educação. Estas coisas são boas, mas o problema
fundamental da raça humana é o pecado.
Quando
vemos a santidade de Deus e a depravação da raça, bate o desespero: “Ai de mim
que estou perdido!”, bradou Isaías. “Miserável homem que sou”, gemeu Paulo. Sem
reconhecer a santidade de Deus e o nosso pecado, levantamos as mãos ao cantar e
exaltar, mas não dobramos os joelhos. Só o reconhecimento da santidade de Deus
e da nossa pecaminosidade nos faz dobrar os joelhos.
Quando
bate o desespero, a graça socorre. Aqui entra o pacto. Deus vem ao homem, vê
sua situação, estende seu favor e apresenta sua salvação. Noé é o homem que
agrada a Deus. Noé andava com ele. Vivia em sua presença. Aqui entra a fé.
Santidade,
pecaminosidade, juízo, fé, graça e salvação. Quanta riqueza! Quantas mensagens
para a igreja anunciar ao mundo! Só ela tem condições de explicar e pregar
isso. E ela existe, entre outros aspectos, para dizer isto ao mundo. Faz parte
da aliança que Deus firmou com os homens, e ratificou, de várias maneiras, até
reformatá-la definitivamente em Jesus. Como é pequeno o evangelho reducionista
que fala só de bênçãos materiais, e esquece o pecado, a graça, o juízo, a
salvação que é apontada de forma refulgente em Jesus! A igreja de Cristo é
pregadora da aliança: o Deus santo se desgosta com o pecado, vai julgar e
oferece sua graça em Jesus!
O
conteúdo da aliança com Noé, com todos os seus ingredientes, faz parte da
pregação de Jesus: “A vinda do Filho do
Homem será como aquilo que aconteceu no tempo de Noé. Pois, antes do dilúvio, o
povo comia e bebia, e os homens e as mulheres casavam, até o dia em que Noé
entrou na barca. Porém não sabiam o que estava acontecendo, até que veio o
dilúvio e levou todos. Assim também será a vinda do Filho do Homem” (Mt
24.37-39).
A igreja
precisa falar da aliança. Principalmente na sua forma final: “Porque isto é o
meu sangue, que é derramado em favor de muitos para o perdão dos pecados, o
sangue que garante a aliança feita por Deus com o seu povo” (Mt 26.28). A forma
final da aliança está na cruz, no sangue de Jesus.
Preguemos
a santidade de Deus, o pecado do homem, o juízo divino, e a aliança que ele nos
propõe em Jesus Cristo.
Deus seja louvado.
Isaltino Gomes Coelho Filho