Cristo é mais o Fundamento do que o fundador da Igreja. Isto fica evidente pelo uso do tempo futuro que faz em Mateus 16.18, ao dizer: Sobre esta pedra edificarei a minha igreja. Lucas destaca isto ao nos informar em seu Evangelho “acerca de tudo quanto Jesus começou a fazer e ensinar” (At. 1.1). Em Atos ele relatou a fundação e a divulgação a igreja cristã pelos apóstolos sob a direção do Espírito Santo.
Até mesmo os discípulos compreenderam mal a natureza espiritual da missão de Cristo por quererem saber, após Sua ressurreição, quem restauraria o reino messiânico (At. 1.6). Cristo mesmo já lhes tinha dito que, depois de fortalecidos pelo Espírito Santo, a sua tarefa seria testemunhar Dele “em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra” (At. 1.8).
Note-se que Cristo deu prioridade à proclamação aos judeus. Mesmo um estudo superficial do Atos dos Apóstolos revelará que esta é a ordem seguida pela igreja primitiva. O evangelho foi primeiro proclamado em Jerusalém por Pedro no dia de Pentecoste; depois, foi levado pelos cristãos judeus a outras cidades da Judeia e da Samaria. Desse modo, a igreja foi primeiramente judia e existiu dentro do judaísmo. O desenvolvimento do cristianismo aí e sua chegada a Antioquia é descrito por Lucas nos primeiros 12 capítulos de Atos.
A fundação da Igreja em Jerusalém
Parece Paradoxal que o principal centro de inimizade contra Cristo tenha sido a cidade onde de acordo com a promessa de Cristo, nas últimas semanas de Sua vida, de que enviaria “um Consolador” que lideraria a Igreja após sua ascensão. Um estudo meticuloso de João 14:16-18, 15.26-27 e 16.7-15 mostrará a função do Espírito Santo na igreja primitiva. Realmente, os focos do livro de Atos são a ressurreição de Cristo, como o assunto da pregação apostólica, e o Espírito Santo, como capacitação e guia da comunidade Cristã a partir do Pentecostes. O Espírito Santo se tornou o Agente da Trindade na mediação da obra de redenção dos homens. Judeus de todas as partes do mundo mediterrâneo estavam presentes em Jerusalém para ver a Festa do Pentecostes por ocasião da fundação da igreja (At. 2.5-11). A manifestação sobrenatural do poder divino no falar em línguas, claramente relacionada à origem da igreja, e a vinda do Espírito Santo levaram os judeus presentes a declararem a maravilha das obras de Deus em sua própria língua (At. 2.11). Pedro aproveitou a oportunidade para proferir o primeiro e possivelmente o mais fecundo sermão já preparado, e proclamar a messianidade de Cristo e a graça salvadora. Por fim, três mil pessoas aceitaram a sua palavra e foram batizados (At 2.41). Foi dessa maneira que a entidade ou organismo espiritual, a igreja invisível, o Corpo de Cristo ressuscitado começou a existir.
O crescimento foi rápido. Outros era acrescidos diariamente ao número dos três mil até chegarem logo a cinco mil (At 4.4). Há menção de multidões se integrando à igreja (At. 5.14). É interessante que muitos eram judeus helenistas (At. 6.1) da dispersão e que estavam em Jerusalém para celebrar as grandes festas relacionadas com a Páscoa e o Pentecoste. Nem mesmo os sacerdotes ficaram imunes ao contágio da nova fé. “Muitos sacerdotes” (At. 6.7) são mencionados como estando entre os membros da igreja primitiva de Jerusalém. Talvez alguns deles tivessem visto a abertura do grande véu do templo, logo depois da morte de Cristo, e isto, junto com a pregação dos apóstolos, levou-os a se comprometerem com Cristo.
Este crescimento tão rápido não se fez sem a oposição da parte de judeus. As autoridades eclesiásticas logo perceberam que o cristianismo representava uma ameaça e suas prerrogativas como interpretes e sacerdotes da lei; por isto, reuniram suas forças para combater o cristianismo. A perseguição veio primeiro de um organismo político-eclesiástico, o Sinédrio, que com permissão romana, supervisionava a vida civil e religiosa do estado. Pedro e João tiveram que comparecer perante este egrégio órgão duas vezes e foram proibidos de pregar o evangelho, mas eles se recusaram a cumprir a ordem. Mais tarde a perseguição tomou cunho mais político, Herodes matou Tiago e prendeu Pedro (At 12) nesta fase de perseguição. Daí por diante a perseguição tem seguido esse padrão eclesiástico ou político.
Esta perseguição deu ao Cristianismo seu primeiro mártir, Estevão. Fora ele um dos mais destacados dos sete homens escolhidos para administrar os fundos de caridade na igreja de Jerusalém. Testemunhos falsos, que não podiam resistir ao espírito e à lógica que ele falou, obrigaram-no a comparecer diante do Sinédrio. Após um emocionante discurso em que denunciou líderes judeus por sua rejeição de Cristo, foi retirado e apedrejado até a morte. Sua morte como primeiro mártir da fé cristã, foi um fator importante na divulgação e crescimento do cristianismo. Saulo, depois Paulo o apóstolo, guardou as capas daqueles que apedrejaram Estevão. É claro que a coragem e o espírito perdoador de Estevão diante de uma morte tão trágica marcaram bem no fundo o coração de Saulo. Aquilo que Cristo lhe disse, em Atos 9.5, “Duro será para ti recalcitrar contra os aguilhões”, parecia indicar esta realidade.
A perseguição que se seguiu foi mais dura e acabou sendo o meio usado pela igreja nascente para que sua mensagem fosse levada a outras partes do mundo (At. 8.4). Nem todos os convertidos ao cristianismo tinham, entretanto, um coração puro. Ananias e Safira constituíram-se nos primeiros objetos da disciplina da igreja em Jerusalém por causa da cobiça. Pronta e terrível, esta disciplina foi ministrada através dos apóstolos que eram os líderes da organização.
O relato da aplicação da disciplina sobre este casal culpado suscita o problema se a igreja em Jerusalém praticou ou não o comunismo. Um jovem comunista se emprenhou muito para demonstrar a este autor que os cristãos praticavam o comunismo. Realmente passagens como Atos 2.44-45 e 4.32 parecem sugerir a prática de um tipo utópico de socialismo baseado no principio máximo de socialismo: “a cada um segundo a sua capacidade, de acordo com sua necessidade”. Deve-se notar que, todavia, em primeiro lugar que esta era uma forma temporária, possivelmente concebida para satisfazer as necessidades de muitos de Jerusalém, que estavam ansiosos por doutrina na nova fé, antes de voltarem para suas casas. O fato que tudo era feito voluntariamente é importante. Pedro afirmou claramente em Atos 5.3-4 que Ananias e Safira tinham liberdade para reter ou vender sua propriedade. O ter tudo em comum era uma decisão de caráter fundamentalmente livre. A Bíblia não pode ser usada como Escritura autoritativa para o Capitalismo estatal.
Agora, sem dúvida, o cristianismo primitivo promoveu uma grande mudança social em certas regiões. A igreja de Jerusalém insistiu sobre a igualdade espiritual dos sexos e deu muita importância às mulheres na igreja. A liderança de Dorcas na promoção do trabalho de caridade foi registrada por Lucas (At. 9.36). A criação de um grupo de homens para tomar conta das necessidades foi outro acontecimento de relevância social ocorrido ainda nos primeiros anos do nascimento da igreja. A caridade deveria ser administrada por um corpo organizado, os precursores dos diáconos. Com isto, os apóstolos ficaram completamente livres para o exercício sua liderança espiritual. A necessidade, devido ao rápido crescimento e possivelmente à imitação das práticas da sinagoga judaica, levou à multiplicação de ofícios e oficiais bem cedo na história da Igreja. Algum tempo depois, os presbíteros (anciãos) passaram a integrar o corpo de oficiais, finalmente formado de apóstolos, presbíteros e diáconos, que dividiam a responsabilidade de liderar a igreja de Jerusalém.
A natureza da pregação dos líderes dessa igreja primitiva desponta logo no relato do surgimento do cristianismo. O sermão de Pedro (At 2.14-36) é o primeiro sermão de um apóstolo; nele recorde-se, Pedro apelou aos profetas do Velho Testamento que haviam pré-anunciado o Messias sofredor. Ele propôs, então que que Cristo era esse Messias, porque ele tinha sido levantado dentre os mortos por Deus. Logo, Ele era capaz de trazer a salvação aqueles que O aceitassem pela fé. Os principais argumentos destes primeiros sermões estão em Atos 17.2-3. A necessidade da morte de Cristo pelo pecado foi também predita pelos profetas e a ressurreição de Cristo era a prova que ele era o Messias que salvaria os homens. Paulo também bateu nessa mesma tecla (1 Co. 15.3-4). O Cristo crucificado e ressurreto era o conteúdo de sua pregação tanto a judeus como a gentios (Jo 5.22,27; Atos 10.42; 17.31).
A igreja judaica em Jerusalém, cuja história foi descrita, logo perdeu seu lugar de líder do cristianismo para outras igrejas. A decisão tomada no Concílio em Jerusalém, de que os gentios não eram obrigados a obedecer a lei, abriu o caminho para a emancipação espiritual das igrejas gentílicas do controle judaico. Durante o cerco de Jerusalém em 70 por Tito, os membros da igreja foram forçados a fugir para Pela, do outro lado do Jordão. Depois da destruição do templo e da fuga da igreja judaica, Jerusalém deixou de ser vista como o centro do cristianismo; a liderança espiritual da Igreja Cristã se centralizou, então, em outras cidades, especialmente em Antioquia. Isto evitou o perigo de que o cristianismo jamais se libertasse dos quadros do judaísmo.
A igreja na Palestina
O interesse nas atividades da igreja em Jerusalém ocupa a atenção dos leitores da história da igreja primitiva que Lucas relata nos primeiros sete capítulos de Atos. O Centro de interesse amplia-se para incluir a judéia e a Samaria nos capítulos 8 a 12. O cristianismo foi levado aos povos de outras raças. O verdadeiro cristianismo sempre tem sido de orientação missionária.
A visita de Filipe a Samaria (At. 8.5-25) levou o evangelho a um povo que não era se sangue judeu puro. Os samaritanos eram os descendentes daquelas dez tribos que não foram levadas para a Assiria depois da queda da Samaria e dos colonos que os assírios trouxeram de outras partes do seu império em 721 a.C. Os judeus e os samaritanos fizeram-se inimigos ferrenhos desde então. Pedro e João foram chamados a Samaria para ajudar Filipe, pois o trabalho crescera tão rapidamente que ele estava sem condições de atender a todas as necessidades. Este reavivamento foi a primeira brecha na barreira racial à divulgação do Evangelho. Filipe foi compelido pelo Espírito Santo, após completar o seu trabalho em Samaria, a pregar o Evangelho a um eunuco etíope, ato oficial do governo da Etiópia.
Pedro, o primeir a pregar o Evangelho aos judeus, foi o primeiro a levar oficialmente o Evangelho aos gentios. Depois de uma visão, que deixou claro para ele que os gentios também tinham direito ao Evangelho, Pedro foi à casa de Cornélio, o centurião romano, e se assombrou quando as mesmas manifestações ocorridas no dia de Pentecostes voltavam a se verificar na casa de Cornélio (Atos 10-11). A partir daí, ele se dispôs a levar aos gentios o Evangelho da Graça. O eunuco etíope e Cornélio foram os primeiros gentios a ter o privilégio de receber a mensagem da graça salvadora de Cristo.
Embora aqueles que tinham sido obrigados a sair de Jerusalém pregassem somente aos judeus (At. 11.19), não demorou para que surgisse uma grande igreja gentia que brotou em Antioquia. Aí o termo “Cristão”, inicialmente empregado com sentido pejorativo por mordazes antioquenses, tornou-se a designação de honra dos seguidores de Cristo. Foi em Antioquia que Paulo começou seu ministério público ativo entre os gentios e foi daí que ele partiu para suas viagens missionárias cujo objetivo final era chegar a Roma. A igreja em Antioquia era tão grande que foi capaz de socorrer as igrejas judaicas quando elas passaram fome. Ela foi o principal centro do cristianismo de 44-68 d.C.
A tarefa de levar o Evangelho aos gentios nos “confins” estava apenas começando. Começada por Paulo, esta tarefa continua ainda hoje como a missão inacabada da igreja de Cristo.
Até mesmo os discípulos compreenderam mal a natureza espiritual da missão de Cristo por quererem saber, após Sua ressurreição, quem restauraria o reino messiânico (At. 1.6). Cristo mesmo já lhes tinha dito que, depois de fortalecidos pelo Espírito Santo, a sua tarefa seria testemunhar Dele “em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra” (At. 1.8).
Note-se que Cristo deu prioridade à proclamação aos judeus. Mesmo um estudo superficial do Atos dos Apóstolos revelará que esta é a ordem seguida pela igreja primitiva. O evangelho foi primeiro proclamado em Jerusalém por Pedro no dia de Pentecoste; depois, foi levado pelos cristãos judeus a outras cidades da Judeia e da Samaria. Desse modo, a igreja foi primeiramente judia e existiu dentro do judaísmo. O desenvolvimento do cristianismo aí e sua chegada a Antioquia é descrito por Lucas nos primeiros 12 capítulos de Atos.
A fundação da Igreja em Jerusalém
Parece Paradoxal que o principal centro de inimizade contra Cristo tenha sido a cidade onde de acordo com a promessa de Cristo, nas últimas semanas de Sua vida, de que enviaria “um Consolador” que lideraria a Igreja após sua ascensão. Um estudo meticuloso de João 14:16-18, 15.26-27 e 16.7-15 mostrará a função do Espírito Santo na igreja primitiva. Realmente, os focos do livro de Atos são a ressurreição de Cristo, como o assunto da pregação apostólica, e o Espírito Santo, como capacitação e guia da comunidade Cristã a partir do Pentecostes. O Espírito Santo se tornou o Agente da Trindade na mediação da obra de redenção dos homens. Judeus de todas as partes do mundo mediterrâneo estavam presentes em Jerusalém para ver a Festa do Pentecostes por ocasião da fundação da igreja (At. 2.5-11). A manifestação sobrenatural do poder divino no falar em línguas, claramente relacionada à origem da igreja, e a vinda do Espírito Santo levaram os judeus presentes a declararem a maravilha das obras de Deus em sua própria língua (At. 2.11). Pedro aproveitou a oportunidade para proferir o primeiro e possivelmente o mais fecundo sermão já preparado, e proclamar a messianidade de Cristo e a graça salvadora. Por fim, três mil pessoas aceitaram a sua palavra e foram batizados (At 2.41). Foi dessa maneira que a entidade ou organismo espiritual, a igreja invisível, o Corpo de Cristo ressuscitado começou a existir.
O crescimento foi rápido. Outros era acrescidos diariamente ao número dos três mil até chegarem logo a cinco mil (At 4.4). Há menção de multidões se integrando à igreja (At. 5.14). É interessante que muitos eram judeus helenistas (At. 6.1) da dispersão e que estavam em Jerusalém para celebrar as grandes festas relacionadas com a Páscoa e o Pentecoste. Nem mesmo os sacerdotes ficaram imunes ao contágio da nova fé. “Muitos sacerdotes” (At. 6.7) são mencionados como estando entre os membros da igreja primitiva de Jerusalém. Talvez alguns deles tivessem visto a abertura do grande véu do templo, logo depois da morte de Cristo, e isto, junto com a pregação dos apóstolos, levou-os a se comprometerem com Cristo.
Este crescimento tão rápido não se fez sem a oposição da parte de judeus. As autoridades eclesiásticas logo perceberam que o cristianismo representava uma ameaça e suas prerrogativas como interpretes e sacerdotes da lei; por isto, reuniram suas forças para combater o cristianismo. A perseguição veio primeiro de um organismo político-eclesiástico, o Sinédrio, que com permissão romana, supervisionava a vida civil e religiosa do estado. Pedro e João tiveram que comparecer perante este egrégio órgão duas vezes e foram proibidos de pregar o evangelho, mas eles se recusaram a cumprir a ordem. Mais tarde a perseguição tomou cunho mais político, Herodes matou Tiago e prendeu Pedro (At 12) nesta fase de perseguição. Daí por diante a perseguição tem seguido esse padrão eclesiástico ou político.
Esta perseguição deu ao Cristianismo seu primeiro mártir, Estevão. Fora ele um dos mais destacados dos sete homens escolhidos para administrar os fundos de caridade na igreja de Jerusalém. Testemunhos falsos, que não podiam resistir ao espírito e à lógica que ele falou, obrigaram-no a comparecer diante do Sinédrio. Após um emocionante discurso em que denunciou líderes judeus por sua rejeição de Cristo, foi retirado e apedrejado até a morte. Sua morte como primeiro mártir da fé cristã, foi um fator importante na divulgação e crescimento do cristianismo. Saulo, depois Paulo o apóstolo, guardou as capas daqueles que apedrejaram Estevão. É claro que a coragem e o espírito perdoador de Estevão diante de uma morte tão trágica marcaram bem no fundo o coração de Saulo. Aquilo que Cristo lhe disse, em Atos 9.5, “Duro será para ti recalcitrar contra os aguilhões”, parecia indicar esta realidade.
A perseguição que se seguiu foi mais dura e acabou sendo o meio usado pela igreja nascente para que sua mensagem fosse levada a outras partes do mundo (At. 8.4). Nem todos os convertidos ao cristianismo tinham, entretanto, um coração puro. Ananias e Safira constituíram-se nos primeiros objetos da disciplina da igreja em Jerusalém por causa da cobiça. Pronta e terrível, esta disciplina foi ministrada através dos apóstolos que eram os líderes da organização.
O relato da aplicação da disciplina sobre este casal culpado suscita o problema se a igreja em Jerusalém praticou ou não o comunismo. Um jovem comunista se emprenhou muito para demonstrar a este autor que os cristãos praticavam o comunismo. Realmente passagens como Atos 2.44-45 e 4.32 parecem sugerir a prática de um tipo utópico de socialismo baseado no principio máximo de socialismo: “a cada um segundo a sua capacidade, de acordo com sua necessidade”. Deve-se notar que, todavia, em primeiro lugar que esta era uma forma temporária, possivelmente concebida para satisfazer as necessidades de muitos de Jerusalém, que estavam ansiosos por doutrina na nova fé, antes de voltarem para suas casas. O fato que tudo era feito voluntariamente é importante. Pedro afirmou claramente em Atos 5.3-4 que Ananias e Safira tinham liberdade para reter ou vender sua propriedade. O ter tudo em comum era uma decisão de caráter fundamentalmente livre. A Bíblia não pode ser usada como Escritura autoritativa para o Capitalismo estatal.
Agora, sem dúvida, o cristianismo primitivo promoveu uma grande mudança social em certas regiões. A igreja de Jerusalém insistiu sobre a igualdade espiritual dos sexos e deu muita importância às mulheres na igreja. A liderança de Dorcas na promoção do trabalho de caridade foi registrada por Lucas (At. 9.36). A criação de um grupo de homens para tomar conta das necessidades foi outro acontecimento de relevância social ocorrido ainda nos primeiros anos do nascimento da igreja. A caridade deveria ser administrada por um corpo organizado, os precursores dos diáconos. Com isto, os apóstolos ficaram completamente livres para o exercício sua liderança espiritual. A necessidade, devido ao rápido crescimento e possivelmente à imitação das práticas da sinagoga judaica, levou à multiplicação de ofícios e oficiais bem cedo na história da Igreja. Algum tempo depois, os presbíteros (anciãos) passaram a integrar o corpo de oficiais, finalmente formado de apóstolos, presbíteros e diáconos, que dividiam a responsabilidade de liderar a igreja de Jerusalém.
A natureza da pregação dos líderes dessa igreja primitiva desponta logo no relato do surgimento do cristianismo. O sermão de Pedro (At 2.14-36) é o primeiro sermão de um apóstolo; nele recorde-se, Pedro apelou aos profetas do Velho Testamento que haviam pré-anunciado o Messias sofredor. Ele propôs, então que que Cristo era esse Messias, porque ele tinha sido levantado dentre os mortos por Deus. Logo, Ele era capaz de trazer a salvação aqueles que O aceitassem pela fé. Os principais argumentos destes primeiros sermões estão em Atos 17.2-3. A necessidade da morte de Cristo pelo pecado foi também predita pelos profetas e a ressurreição de Cristo era a prova que ele era o Messias que salvaria os homens. Paulo também bateu nessa mesma tecla (1 Co. 15.3-4). O Cristo crucificado e ressurreto era o conteúdo de sua pregação tanto a judeus como a gentios (Jo 5.22,27; Atos 10.42; 17.31).
A igreja judaica em Jerusalém, cuja história foi descrita, logo perdeu seu lugar de líder do cristianismo para outras igrejas. A decisão tomada no Concílio em Jerusalém, de que os gentios não eram obrigados a obedecer a lei, abriu o caminho para a emancipação espiritual das igrejas gentílicas do controle judaico. Durante o cerco de Jerusalém em 70 por Tito, os membros da igreja foram forçados a fugir para Pela, do outro lado do Jordão. Depois da destruição do templo e da fuga da igreja judaica, Jerusalém deixou de ser vista como o centro do cristianismo; a liderança espiritual da Igreja Cristã se centralizou, então, em outras cidades, especialmente em Antioquia. Isto evitou o perigo de que o cristianismo jamais se libertasse dos quadros do judaísmo.
A igreja na Palestina
O interesse nas atividades da igreja em Jerusalém ocupa a atenção dos leitores da história da igreja primitiva que Lucas relata nos primeiros sete capítulos de Atos. O Centro de interesse amplia-se para incluir a judéia e a Samaria nos capítulos 8 a 12. O cristianismo foi levado aos povos de outras raças. O verdadeiro cristianismo sempre tem sido de orientação missionária.
A visita de Filipe a Samaria (At. 8.5-25) levou o evangelho a um povo que não era se sangue judeu puro. Os samaritanos eram os descendentes daquelas dez tribos que não foram levadas para a Assiria depois da queda da Samaria e dos colonos que os assírios trouxeram de outras partes do seu império em 721 a.C. Os judeus e os samaritanos fizeram-se inimigos ferrenhos desde então. Pedro e João foram chamados a Samaria para ajudar Filipe, pois o trabalho crescera tão rapidamente que ele estava sem condições de atender a todas as necessidades. Este reavivamento foi a primeira brecha na barreira racial à divulgação do Evangelho. Filipe foi compelido pelo Espírito Santo, após completar o seu trabalho em Samaria, a pregar o Evangelho a um eunuco etíope, ato oficial do governo da Etiópia.
Pedro, o primeir a pregar o Evangelho aos judeus, foi o primeiro a levar oficialmente o Evangelho aos gentios. Depois de uma visão, que deixou claro para ele que os gentios também tinham direito ao Evangelho, Pedro foi à casa de Cornélio, o centurião romano, e se assombrou quando as mesmas manifestações ocorridas no dia de Pentecostes voltavam a se verificar na casa de Cornélio (Atos 10-11). A partir daí, ele se dispôs a levar aos gentios o Evangelho da Graça. O eunuco etíope e Cornélio foram os primeiros gentios a ter o privilégio de receber a mensagem da graça salvadora de Cristo.
Embora aqueles que tinham sido obrigados a sair de Jerusalém pregassem somente aos judeus (At. 11.19), não demorou para que surgisse uma grande igreja gentia que brotou em Antioquia. Aí o termo “Cristão”, inicialmente empregado com sentido pejorativo por mordazes antioquenses, tornou-se a designação de honra dos seguidores de Cristo. Foi em Antioquia que Paulo começou seu ministério público ativo entre os gentios e foi daí que ele partiu para suas viagens missionárias cujo objetivo final era chegar a Roma. A igreja em Antioquia era tão grande que foi capaz de socorrer as igrejas judaicas quando elas passaram fome. Ela foi o principal centro do cristianismo de 44-68 d.C.
A tarefa de levar o Evangelho aos gentios nos “confins” estava apenas começando. Começada por Paulo, esta tarefa continua ainda hoje como a missão inacabada da igreja de Cristo.